Cenário

Pelotas tem 6,7 vezes mais farmácias do que o recomendado

Pelo menos 276 estabelecimentos do tipo estão espalhados pela cidade; profissionais avaliam lados positivos e negativos do cenário

Foto: Carlos Queiroz - DP - Em alguns pontos da cidade é possível encontrar uma farmácia ao lado de outra

Ao circular pelas ruas de Pelotas, é difícil não passar por uma farmácia (ou várias) pelo caminho. E a impressão de que elas estão por toda parte não é à toa. São ao menos 276 estabelecimentos do tipo instalados na cidade, conforme dados mais recentes do DataSebrae - número que representa a proporção de um estabelecimento a cada 1,1 mil habitantes. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a recomendação é de que haja uma farmácia a cada oito mil moradores.

O crescimento do setor, que também se repete em todo o País, pode ser atribuído a diferentes fatores, conforme avalia a diretora do Conselho Regional de Farmácia do Rio Grande do Sul (CRF/RS), Luciana Legg. "O aumento significativo no número de novas farmácias é uma consequência da crescente demanda por maior oferta e qualidade de serviços e produtos. Esse cenário também acompanha o envelhecimento da população, tornando as farmácias estabelecimentos essenciais para a saúde e bem-estar geral", observa.

Para a coordenadora do curso de Farmácia da UFPel, Juliane Monks, a oferta de diferentes serviços como vacinas, verificação de pressão, glicemia e outros também estimula esse mercado. "À medida que os serviços farmacêuticos clínicos são ampliados e podem ser oferecidos dentro da drogaria, consequentemente a população vai cada vez mais utilizar esse serviço e procurar esse ambiente."

A reportagem também entrou em contato com o Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos no Estado (Sinprofar/RS) para que avaliasse a expansão do setor. No entanto, após a entrevista, a representação preferiu não ser citada na matéria.

É bom ou ruim?
O número crescente de farmácias pela cidade inevitavelmente levanta o questionamento: isso é bom ou ruim? Para as profissionais ouvidas pela reportagem, a resposta é complexa. "Pode ser positivo no que se refere à oferta de serviços e produtos farmacêuticos, permitindo à população um acesso mais facilitado aos cuidados básicos de saúde. Por outro lado, o grande número de estabelecimentos pode inviabilizar a manutenção daqueles de menor porte, diminuindo a capilaridade desses estabelecimentos nos bairros e regiões de maior fragilidade social", avalia a diretora do CRF/RS.

Na opinião da coordenadora do curso da UFPel, ainda não há resposta exata para o questionamento, mas há um lado positivo. "O bom disso é que onde tem farmácia, tem farmacêutico. Hoje a população enxerga o farmacêutico de uma forma diferente, não é mais só aquela pessoa que te entrega o medicamento. Ele é um profissional de saúde e as pessoas podem e devem procurá-lo para ser racional no uso de medicamentos", observa Juliane.

Mudanças ao longo dos anos
Quem trabalha nestes estabelecimentos relata que, apesar da concorrência, o público não diminuiu com o tempo. Profissional de uma farmácia pelotense, a farmacêutica Alice Chagas está há 20 anos no ramo e relata que viu de perto o aumento acelerado da concorrência. Para ela, a situação oferece pontos positivos e negativos. "A farmácia é um serviço essencial à saúde da população. Claro que é um comércio, mas acho que tem que atender a necessidade da população. Ter várias empresas e redes é bom para o cliente pela concorrência e é bom para a cidade porque vai gerar empregos, mas acho que o crescimento indiscriminado nem sempre é necessário", pondera.

Em outra rede do setor, uma farmacêutica que preferiu não se identificar também reflete sobre o que viu ao longo dos 24 anos de trabalho na atividade. "Houve realmente um boom. Nos últimos 15 anos a multiplicação de farmácias foi muito grande. Não sei se feliz ou infelizmente. É uma pergunta que a gente se faz, se essa situação não significa que exista algum erro no caminho que precisa ser corrigido", observa. O aumento da busca por remédios psicotrópicos (como ansiolíticos e antidepressivos) e suplementações vitamínicas também foi destacado pelas profissionais como uma das principais mudanças percebida ao longo dos anos no setor farmacêutico.


Panorama na região
- Pelotas: 276 farmácias - uma farmácia a cada 1,1 mil habitantes
- São Lourenço: 30 farmácias - uma farmácia a cada 1,3 mil habitantes
- Rio Grande: 125 farmácias - uma farmácia a cada 1,5 mil habitantes
- Canguçu: 31 farmácias - uma farmácia a cada 1,6 mil habitantes

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